Acho que não existe na vida nada mais inconstante, imprevisível e subjectivo do que o tempo. Não o tempo em si mesmo, mas a ansiedade em que nos deixa quando passa por nós a correr, a tranquilidade quando se demora um pouco mais a contemplar-nos ou o desolamento quando se limita a existir, ignorando-nos completamente.
Ontem, imaginei e construí um quarto cheio de flores e cores, enchi armários e gavetas de roupas pequeninas, comprei brinquedos, inventei histórias e canções, percebi como era possível o mundo inteiro estar contido dentro de uma barriga redonda. Hoje, acordei com uma voz que me disse:
- Mamã, tens de me comprar um soutien!
Ontem? Hoje? Quanto tempo passou?
Muito, talvez... o meu colo já parece pequeno para um corpo que se tornou tão grande.
Pouco, tenho a certeza... tudo começou há pouquinho, há uns segundos atrás, acho que só tive tempo de pestanejar.