7.12.09

A fada de Natal...

Era noite de Natal.
A casa estava quente, perfumada e barulhenta, como acontecia em todas as noites de Natal de que se lembrava. Apesar da animação dos adultos e da agitação dos miúdos, ela sentia uma tristeza sem fim. Sentiu que precisava de se isolar um pouco daquele ambiente festivo, que precisava de uns instantes a sós consigo própria, antes de se deixar levar na noite mais longa do ano.
Foi para o seu quarto certa de que, no seu mundo privado, se sentiria livre para soltar a lágrima que há muito lhe inundava o olhar. Fechou a porta do quarto atrás de si e deixou-se estar às escuras, de olhos fechados, encostada à parede. Quando voltou a abrir os olhos, viu um clarão de luz azulada e cintilante que vinha do lado da janela. Verificou que o candeeiro continuava desligado e perguntou a si própria de onde vinha toda aquela luminosidade. A medo, deu dois passos e, quando espreitou para o interior do quarto, viu um ser pequenino de pé em cima da sua cama, que lhe disse suavemente :


- Não te assustes, por favor ...
- Quem és tu? - perguntou, receosa e estupefacta.
- Sou a Fada do Natal. Não me conheces?
- Fada do Natal?!? Não, não conheço. Conheço o Espírito de Natal e o Pai Natal, mas da Fada do Natal nunca ouvi falar ...
- Pois, compreendo ... normalmente as pessoas não me vêem nem me ouvem, mas olha que sou muito importante no natal de todas as pessoas do mundo!
- Ah sim? E porquê? - perguntou, estranhamente tranquila.
- Senta-te aqui na cama, perto de mim, vou contar-te.

Aproximou-se, sentou-se na beira da cama e olhou bem para ela. Era pequenina, tinha cabelos castanhos e olhos muito pretos. Vestia-se com um longo vestido vermelho e um cachecol branco e tinha na mão uma estrela. De facto, tinha um ar bastante natalício ...
- E então? Dizias que és muito importante no Natal ...
- Sim, é verdade. Trabalho o ano inteiro em colaboração com o Pai Natal. Como sabes, com as crianças não é difícil perceber quais são os seus desejos ... Como as cartas que escrevem ao Pai Natal são bem claras, não deixam dúvidas quanto aos seus pedidos. Mas, com os adultos, é um pouco diferente ...
- Pois, na verdade os adultos não costumam escrever cartas ao Pai Natal. Eu, pelo menos, desde os 7 anos que não o faço ...
- Os adultos não escrevem cartas, mas fazem os seus pedidos de um modo muito mais difícil de adivinhar ... é quase como se escrevessem uma carta com o pensamento, mas esta carta nunca segue o seu destino, fica dentro de cada pessoa.
- É, os adultos são mesmo complicados ...
- Pois o meu trabalho é exactamente esse, descobrir o que cada pessoa mais deseja em cada natal, transmiti-lo ao Pai Natal e, juntos, tentarmos realizar esse desejo.
- Que trabalho tão bonito que tu tens! - respondeu, agora já completamente deslumbrada por aquela pequenina fada de voz doce.
- Mas o que hoje me traz aqui não é bem isso ...
- E o que vieste fazer aqui, afinal?
- Vim dizer-te que o teu desejo de natal não pode ser realizado.
- Sim, eu já sabia disso ... - respondeu baixinho, sentindo de novo o nó na garganta.
- Quando naquela noite de tempestade, acordaste a chorar, formulaste o teu pedido, lembras-te?
- Lembro, sim.
- Eu estava atenta e contei ao Pai Natal o teu desejo. Claro que percebemos logo que não iria ser possível ...
- Eu sei, não precisas de explicar, há coisas que não têm retorno ...
- Exactamente, o teu desejo não pode ser realizado, mas tenho uma sugestão a fazer-te...
- Qual é? - perguntou, cheia de expectativa.
- Vai até à janela e espreita lá para fora.
Fez o que a fada lhe indicou, dirigiu-se à janela, abriu-a e olhou para o exterior. Sentiu o ar gelado da noite arrefecer-lhe as faces coradas.
- E agora? O que faço? - perguntou.
- Olha para o céu ...
- Sim, já estou a olhar, está cheio de estrelas, acho que amanhã vai estar sol.
- Estás a vê-la?
- Quem?!?
- Procura bem, olha para o céu com atenção, quando a vires vais perceber.
Olhou atentamente para o céu estrelado. De repente, o seu olhar fixou-se numa estrela que parecia maior do que todas as outras, mais brilhante, mais radiosa.
- Sim, estou a vê-la! -- exclamou alegremente.
- Então olha fixamente para ela e pensa com toda a força no teu desejo.
Seguiu as orientações da fada, olhou para a estrela, abstraindo-se das outras e, aos poucos, começou a distinguir uma forma, parecia um rosto, um rosto familiar, um rosto que amava.
- Sim, estou a vê-lo ... - murmurou.
- Agora volta para dentro, ainda te constipas!
Fechou a janela, voltou a sentar-se na cama, enxugando com a mão as lágrimas que lhe molhavam a cara.
- Percebeste agora o que vim fazer aqui?
- Acho que sim - respondeu com um sorriso tímido nos lábios.
- Vim dizer-te que o Pai Natal não pode oferecer-te o que lhe pediste, da forma como o pediste. Mas lá em cima, está um outro presente de natal ... sempre que o quiseres admirar, basta abrires uma janela e procurares a estrela mais brilhante de todas.
- Obrigada - respondeu.
- Não tens que agradecer. Toma esta estrela, foi feita pelo Pai Natal e vai servir para te lembrar que, mesmo nas noites de tempestade, em que as nuvens carregadas escondem o céu estrelado, a tua estrela continua lá, só tens que esperar que a chuva passe.
Estendeu a mão e pegou na pequena estrela que a fada lhe entregava.
- Tenho de ir embora, tenho outras coisas para tratar ... Junta-te a tua família, vai divertir-te um pouco ... Até qualquer dia!
- Obrigada! Adeus!
Dirigiu-se para a porta do quarto, olhou para trás e acenou-lhe.
Entrou na sala com a pequena estrela guardada na mão, pendurou-a na árvore de natal, abriu as cortinas das janelas e deixou entrar a noite.
- Vamos jantar! Já são horas! - exclamou numa voz alegre.
Sentada à mesa no seu lugar habitual, no meio da confusão de travessas e pratos, crianças e risos, olhou através da janela e viu a sua estrela, a maior e mais brilhante de todas as estrelas do céu. O seu presente de natal, nesse ano, tinha chegado antes da meia-noite!

Esta fada e esta história são um presente feito com todo o carinho do mundo para uma amiga muito especial que, neste Natal, não vai ter o presente que pediu. Na noite mais longa do ano, olha para o céu, querida amiga e procura a estrela maior e mais brilhante de todas.
Feliz Natal, E.!

4 comentários:

  1. Obrigada Maria.Este foi o mais lindo presente que alguma vez recebi. As lágrimas caíam ...e continuam a correr. Mas soube-me bem chorar.
    No dia 24 lá estarei a espreitar a estrelinha mais brilhante junto da minha fada de Natal. Obrigada Amiga...tu sim és especial e nessa hora vou pedir a essa estrelinha que brilhe também para ti...espreita. Beijinhos

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  2. Adorei!
    Tanto a história, como a fada do Natal.
    Beijocas
    Sofia

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  3. Estou sem palavras...
    Uma história linda...para uma amiga que deve ser muiiiito especial!
    É linda a vossa amizade...que lea permaneça para sempre!
    Tudo de bom para as duas!
    Bjos
    Paula

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  4. O Céu, a Lua e as Estrelas sempre foram muito especiais para mim. A partir de hoje o seu significado será ainda mais forte e nos momentos de maior necessidade também vou abrir a minha janela e espreitar lá para cima. Espero que as lágrimas me deixem ver aquela que para mim brilha mais.
    Obrigada pelas tuas historias e tua amizade.
    Ainhoa

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