25.1.10

Flor de Inverno


Há meia hora que não conseguia tirar os olhos dela.
Estava completamente hipnotizado por aquele sorriso quente, por aquele olhar negro e fugidio. Observava os gestos sem querer saber o significado, ouvia as palavras sem querer desvendar o sentido, olhava-a simplesmente e isso deixava-o feliz.
Levantou-se devagar, foi ao seu encontro, parou à sua frente, olhou-a nos olhos e perguntou:
- Como te chamas?
- Porque queres saber?
- De tanto te olhar já te conheço bem, mas falta-me o nome, um nome para te chamar...
Ela fitou-o com um ar cúmplice. Ele sentiu um aroma fresco, lembrou-se do cheiro da relva molhada pela chuva.
- Podes chamar-me o que quiseres.
- Sim? Então vou chamar-te Flor de Inverno.
- Flor de Inverno... flor rara.. flor única... flor efémera?
- Não, simplesmente Flor de Inverno.


5.1.10

Se amanhã chover...

Se amanhã chover, pego em ti ao colo, meto-te debaixo da minha gabardine e vamos descobrir o mundo, saltitando alegremente por entre as gotas de chuva. Se amanhã chover, ficamos em casa, ligamos a música e dançamos o dia inteiro. Se amanhã chover, compramos pincéis e tintas e pintamos o dia de todas as cores do arco-íris. Se amanhã chover, brincamos aos circos, tu equilibrista e eu malabarista. Se amanhã chover, lemos um livro, vemos um filme, fazemos um espectáculo. Se amanhã chover,  metes-te devagarinho na cama ao meu lado, de manhã bem cedinho, encostas a cara morna ao meu ombro e dizes bom dia, mamã! Eu procuro o teu ouvido e, num sussuro quase beijo, digo-te de mansinho está a chover, dorme mais um bocadinho.